terça-feira, 18 de março de 2008

Permitir-se... isso é coragem!!!


Não importa a tradução da palavra, mas sim o sentido subjetivo que damos a ela, com respaldo na idéia que fazemos de um determinado assunto... pois bem, permitir-se é mais do que coragem, é a ousadia de uma atitude de contrariar aquilo que é natural. Ousadia implica coragem, fazer o proibido, enfrentar o perigo, aceitar um desafio. Dá medo entrar numa floresta desconhecida, dá medo escalar uma montanha perigosa. O impulso natural é recuar, e frágeis diante de um mundo imenso e assustador trataram então, de nos defender. E então você descobre que o medo faz parte da vida, e que sem ele não haveria coragem. Compreende-se, portanto, que contrariamente ao que disse Aristóteles, a nossa tendência natural seja a de evitar conhecimento. Os homens, naturalmente, esforçam-se por não conhecer. Encontrar os próprios significados de cada virtude ou defeito é um exercício vagaroso e, por vezes, difícil. Mas que vale muito a pena considerando que a recompensa é nada menos do que o encontro consigo mesmo, o que nos remete ao Poema de Clarice Lispector:
A revelação
"E é inútil procurar encurtar caminho e querer começar já sabendo que a voz diz pouco, já começando por ser despessoal. Pois existe a trajetória, e a trajetória não é apenas um modo de ir. A trajetória somos nós mesmos. Em matéria de viver, nunca se pode chegar antes. A via-crucis não é um descaminho, é a passagem única, não se chega senão através dela e com ela. A insistência é o nosso esforço, a desistência é o prêmio. A este só se chega quando se experimentou o poder de construir, e, apesar do gosto de poder, prefere-se a desistência. A desistência tem que ser uma escolha. Desistir é a escolha mais sagrada de uma vida. Desistir é o verdadeiro instante humano. E só esta, é a glória própria de minha condição. A desistência é uma revelação".
[...] A desistência é uma revelação. Desisto, e terei sido a pessoa humana - e só no pior de minha condição que esta é assumida como o meu destino [...] Chego à altura de poder cair, escolho, estremeço e desisto, e, finalmente me votando à minha queda, despessoal, sem voz própria, finalmente sem mim - eis que tudo o que não tenho é que é meu [...] E então eu adoro.

2 comentários:

Unknown disse...

Lela, querida, amei o seu blog.
Trás em si a profundidade de uma experiência de vida...mesmo na sua pouca idade.Que as palavras não se tornem fumaça que andam com o vento. Mas, traga em si o conteúdo que esta dentro do coração na forma que esta pessoa maravilhosa que é vc traduz..
Um enorme beijo no seu coração.

Anônimo disse...

Ai querida...forte o que você escreveu! Essa parte: " E então você descobre que o medo faz parte da vida, e que sem ele não haveria coragem." marcou...e, sem contar que Clarice é sensacional.Não conhecia este texto dela, mas é muito bom!
bjão

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