quarta-feira, 26 de março de 2008

A ANGÚSTIA DA RENOVAÇÃO





Quando falamos de renovação, pressupõe-se que devemos ter consciência do que somos e do que poderíamos vir a ser. Mas acredito muito mais na capacidade de nos orientarmos nas questões que nos levam a pensar na renovação.
No texto O Ser e o Nada de Sartre é um modo de pensar a condição existencial e nessa perspectiva aponta para a constituição do homem enquanto lançado no mundo, num projetar rumo à construção de seu próprio ser. Solitário e condenado a escolher , o homem tem que criar na sua existência uma maneira de ser. Essa escolha deve ser realizada pelo próprio vazio da consciência construída nos caminhos da liberdade e na vertigem da angústia de seu próprio existir. Sartre define o homem, enquanto consciência, um nada de ser.
Existe um grande paradoxo no significado da palavra Renovar-se:
Pôr novamente em vigor: renovar um costume;
Atualizar-se, pôr-se a par das coisas novas, progredir;
Quando se fala de colocar novamente em vigor é o mesmo que afirmar que o homem não é capaz de pensar sua própria renovação enquanto um nada de ser...
Atualizar-se, ou seja, progredir é o mesmo que existir... Ser num dado momento ou atualmente; viver.
Como é possível pensar na renovação?
A liberdade como consciência, revela ao ser humano a angústia. Para Sartre, o nada no ser humano torna possível tanto a experiência da liberdade de escolha como também da angústia. Ambas surgem de maneira simultânea num contexto de ausência total de conteúdo ou fundamento na consciência. Em outras palavras, ao sentir-se como nada de ser, totalmente convicto na liberdade de escolha, a realidade humana experimenta a angústia, ou seja, a angústia não é o medo. Isto porque o medo aparece sempre frente há algo externo, algo fora do ser humano. Já a angústia corresponde a algo diante de si mesmo, daquilo que constitui a própria realidade humana. No entanto, as relações entre a angústia e o medo podem, em certos casos, aparecerem juntas; ou quando uma se torna presente posteriormente exclui a outra; ou ainda há momentos em que uma surge sozinha sem que haja necessidade da presença da outra.
Assim, na existência o ser humano se faz livremente como um possível, sem a exigência de um fundamento ou um conteúdo na consciência. Isto caracteriza a existência como angustiante. Sartre comenta: “Com efeito, angústia é reconhecimento de uma possibilidade como minha possibilidade, constitui-se quando a consciência se vê cortada de sua essência pelo nada ou separada do futuro por sua própria liberdade”

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